sábado, 12 de setembro de 2009

O Que é o Batismo com o Espírito Santo?

Batismo com o Espírito Santo?

Eis um assunto muito polêmico no meio evangélico! Alguns profetas do Antigo Testamento predisseram que nos dias do Messias, Deus concederia uma difusão liberal do Espírito Santo, nova e diferente, acessível a todos (Is32:15; 44:3; Ez 39:28,29; Jl 2:28).Podemos comprovar, inclusive, que a profecia dada no passado sobre a retirada do pecado e o Batismo com o Espírito Santo (Ez 36:25,27), se cumpriu no ministério do Senhor Jesus Cristo, o Messias enviado por Deus (Jo 1:29,33). Em Atos, capítulo 2, vemos o cumprimento exato da promessa feita aos antigos judeus. Ainda hoje vemos um mover contínuo do Espírito na história dos avivamentos cristãos.

Mas, afinal, o que é o Batismo com o Espírito Santo? É o mesmo que simplesmente falar em línguas estranhas? É uma "segunda bênção", como afirmam os pentecostais? É necessário ser batizado com o Espírito Santo para que sejamos salvos? Vejamos o que a Bíblia nos ensina sobre essas e outras questões.

I - UMA DEFINIÇÃO BÍBLICA DO BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO

1.1 - O Que Não é o Batismo Com o Espírito Santo A) Não é uma "Segunda Bênção" - Segundo a teologia pentecostal convencional, batismo com o Espírito Santo é uma segunda bênção, que acontece após a conversão, e é caracterizada pelo falar em outras línguas (glossolalia). Comentando Colossenses 2:9 e 10, Stott conclui: "(...) Se Deus nos deu o Senhor Jesus Cristo em sua plenitude, e se Cristo já mora em nós através do Seu Espírito, o que mais Deus poderia acrescentar? (...) Crescer em Cristo, sim! Acréscimos além de Cristo, jamais!" Na verdade, como veremos a seguir, a terminologia "batismo com o Espírito Santo" é sinônima de regeneração e novo nascimento, sendo equivalente à conversão. B) Não é simplesmente o falar em línguas estranhas - O recebimento do Espírito Santo nem sempre é seguido da evidência do dom de línguas (I Co12:28-31), mas sempre o será do fruto do Espírito (Gl 5:22,23).

1.2 - O Que é o Batismo Com o Espírito Santo

A) É o mesmo que Conversão, Regeneração ou Novo Nascimento - O Batismo com o Espírito Santo no corpo de Cristo é para todos os que se arrependem e se convertem ao Senhor (Jo 3:3-8; 17:2; I Co 12:13).
B) O dom de falar em línguas estranhas (glossolalia) não é para todos os conversos, mas somente para aqueles a quem o Espírito Santo quiser dar, para um propósito definido no corpo de Cristo (I Co 12:4-12,28-31).

II - ANÁLISE DOS TEXTOS BÍBLICOS

Antes de analisarmos os textos propriamente ditos, precisamos compreender bem um importante princípio de interpretação bíblica: um texto narrativo não serve para fundamentar doutrinas. Vejamos o que nos diz Stott sobre isso: "(...) Esta revelação do propósito de Deus na Bíblia deve ser buscada preferencialmente nas suas passagens didáticas, e não nas descritivas. Para ser mais preciso, devemos procurá-la nos ensinos de Jesus e nos sermões e escritos dos apóstolos, e não nas seções puramente narrativas de Atos. O que a Escritura descreve como acontecido a outros não precisa necessariamente acontecer conosco; porém do que nos é prometido devemos nos apropriar, e o que nos é ordenado devemos obedecer." O reverendo Caio Fábio, não obstante suas atuais dificuldades ministeriais particulares, concorda dizendo: "(...) Não podemos criar doutrina em cima do livro de Atos. Digo isto baseado no fato de que a maioria das teologias a respeito do Espírito Santo atribuem a ele sua principal, às vezes única, ''''''''''''''''''''''''''''''''referência doutrinária''''''''''''''''''''''''''''''''.

Mas o livro de Atos - como o próprio nome diz - é um livro de atos, experiências, não de doutrinas. E atos, experiências, não são padronizáveis, não podem ser absolutizados na sua forma: só doutrinas têm tal possibilidade." Ou seja, não podemos padronizar casos isolados encontrados em alguns versículos da Bíblia, porque apenas doutrinas são padronizáveis. Vejamos agora o que Stott nos diz sobre os textos que fazem referência ao Batismo com o Espírito Santo: "As primeiras quatro ocasiões em que a expressão é usada são as passagens paralelas onde João Batista descreve profeticamente o ministério do Senhor Jesus: ''''''''''''''''''''''''''''''''Ele vos batizará com o Espírito Santo'''''''''''''''''''''''''''''''' (Mt 3:11; Mc 1:8; Lc 3:16; Jo 1:33). A Quinta é a citação que nosso Senhor faz da profecia de João, em que ele aplica ao pentecoste: ''''''''''''''''''''''''''''''''Vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias'''''''''''''''''''''''''''''''' (At 1:5).

A Sexta é a referência de Pedro à citação que Deus faz da profecia de João, onde ele a aplica à conversão de Cornélio, sobre a qual estivemos falando a pouco. Ele relata aos apóstolos em Jerusalém e a outras pessoas: ''''''''''''''''''''''''''''''''Então me lembrei da palavra do Senhor, como disse: João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo'''''''''''''''''''''''''''''''' (At 11:16)." A expressão, "(...) com o Espírito Santo e com fogo (...)", encontrada em alguns textos acima, tem sido interpretada de diversas maneiras:

(1) o fogo é sinônimo de juízo, inferno;
(2) o fogo é sinônimo de destruição do mundo nos últimos dias;
(3) o fogo é sinônimo de purgatório;
(4) o fogo é símbolo de purificação, transmissão de poder. Naturalmente que a última teoria parece ser a mais bíblica, pois o fogo produz os efeitos de purificação, limpeza e destruição. Podemos dizer que o fogo limpa o bem; e destrói o mal.

"O símbolo do Batismo com o Espírito Santo (fogo) e o caráter e os resultados desse batismo mostram a superioridade do ministério de Jesus, em contraste com o de João." Em João 1:33, temos a expressão "o que batiza com o Espírito Santo", que em grego é ''''''''''''''''''''''''''''''''o` bapti,zwn (o que batiza), se trata do verbo bapti'''''''''''''''''''''''''''''''',zw (batizar) no particípio presente. Significa "aquele que continuará a batizar". O ministério de Cristo, de batizar com o Espírito Santo, é um ministério contínuo durante toda a era atual. A última ocorrência está em I Coríntios 12:13: "Pois em um só Espírito fomos todos nós batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos quer livres; e a todos nós foi dado beber de um só Espírito". O que nos desperta a atenção neste texto, em particular, é o enfoque dado às palavras "todos" e "um"; que nos demonstra um fator unificador (vs. 4,8,9,11,13; Compare com Ef 4:4), e não diferenciador, como no dom de línguas.

O vocábulo utilizado no original grego é '''''''''''''''''''''''''''''''' ''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''ebaptíi'''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''',sqhmen, "batizados", que é o verbo bapti'''''''''''''''''''''''''''''''',zw (batizar), conjugado no modo indicativo, tempo aoristo , voz passiva, na primeira pessoa do plural. Para que possamos entender este texto, precisamos levar em consideração a analogia utilizada. No batismo, temos os seguintes componentes:

(1) o batizador, o pastor;
(2) o elemento, a água;
(3) o batizado, o crente; e
(4) o propósito; confissão pública da fé e incorporação numa entidade eclesiástica.

Neste texto temos a seguinte analogia:
(1) o batizador, Jesus Cristo;
(2) o elemento, o Espírito Santo;
(3) os batizados, todos os que se arrependem e se entregam a Cristo; e
(4) o propósito, a incorporação no Corpo de Cristo.

Champlin nos ajuda a compreender a expressão batizados, no texto acima comentado: "É o poder do Espírito, o qual une a todos os homens, sem importar sua raça ou estado anterior, escravos ou livres, pagãos ou santos, moldando-os em um só corpo. A influência do Espírito é que os transforma e une, conferindo-lhes uma mentalidade espiritual e um só estado metafísico. Faz deles uma só entidade espiritual." Quando analisamos o texto de Efésios 1:13, encontramos: "no qual também vós, tendo ouvido a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, e tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa,(...)". A expressão "selados", no grego é ''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''esfagi,sqhte, que vem do verbo sfragi,zw (selar), e está conjugado no modo indicativo, tempo aoristo, voz passiva, na segunda pessoa do plural. A palavra grega sfragi,s (selo),significa: "fechar para guardar e proteger". Os pagãos eram tatuados para indicar que pertenciam a uma divindade.

Os judeus tinham a circuncisão como o selo do pacto de Deus feito com Abraão. Os cristãos se batizam nas águas como o símbolo de um selo (ou batismo) espiritual (Confira com II Co 1:22 e Ef 4:30). Concluindo, a expressão "Batismo com o Espírito Santo" na Bíblia, faz referência à experiência inicial de sermos incorporados no Corpo Espiritual de Cristo; sendo, portanto, sinônima de regeneração, novo nascimento e tornar-se nova criatura (Jo 1:12,13; 3:3-8; II Co 5:17).

III - BATISMO COM O ESPÍRITO X PLENITUDE DO ESPÍRITO

Vejamos, inicialmente, como se dava a ação do Espírito Santo no Antigo Testamento: "No Antigo Testamento, o Espírito Santo vinha sobre uns poucos indivíduos selecionados para servirem a Deus de modo especial, e os revestia de poder (Êx 31:3). O Espírito do Senhor veio sobre muitos dos juizes, tais como Otniel (Jz 3:9,10), Gideão (Jz 6:34), Jefté (Jz 11:29) e Sansão (Jz 14:5,6; 15:14-16)." O que aconteceu no dia de Pentecostes foi que Jesus "derramou" o Espírito do céu e, assim, "batizou", com o Espírito, primeiro os 120 e depois os 3 mil. Á partir dessa ocasião, O Espírito Santo passou a habitar no crente permanentemente (I Co 6:19).

A conseqüência deste batismo foi que eles todos ficaram cheios do Espírito Santo (At 2:4). Portanto, a plenitude do Espírito foi a conseqüência do batismo com o Espírito. O batismo é o que Jesus fez (ao derramar Seu Espírito do céu); a plenitude foi o que eles receberam. O batismo foi uma experiência inicial única; a plenitude Deus queria que fosse contínua, o resultado permanente, a norma. Como acontecimento inicial, o batismo não pode ser repetido nem pode ser perdido, mas o ato de ser enchido pode ser repetido e, no mínimo, precisa ser conservado (Ef 5:18). Quando a plenitude não é conservada, ela se perde. Se foi perdida, pode ser recuperada. O Espírito Santo é "entristecido" pelo pecado (Ef 4:30) e deixa de dominar o pecador.

Neste caso o único meio de recuperar a plenitude é o arrependimento. Mesmo em casos em que não há indícios de que a plenitude foi perdida por causa de algum pecado, lemos que algumas pessoas foram novamente preenchidas,mostrando que uma crise ou um desafio diferente requer um novo revestimento de poder do Espírito. Embora haja um mandamento explícito na Bíblia para que o crente seja cheio, ou pleno, do Espírito Santo (Ef 5:18), não encontramos afirmações ou mandamentos semelhantes em relação ao batismo com o Espírito Santo. A razão para isso está no fato de que esse batismo se trata de uma experiência inicial.

IV - AS ORIENTAÇÕES DE PAULO E O VERDADEIRO LUGAR DO DOM DE LÍNGUAS

Quando lemos I Coríntios caps. 12 a 14 de uma só assentada para poder perceber o impacto total do tratamento que Paulo dá aos dons carismáticos, podemos perceber que não se trata de um apelo aos crentes que busquem cada vez mais falar em línguas, mas sim de um apelo urgente aos glossolalistas (aqueles que falam em línguas estranhas) para se "aquietarem". Vejamos como Paulo deliberadamente reduziu a importância do dom de línguas:

4.1 - Disse que as línguas não eram um dom concedido universalmente a todos os crentes (I Co 12:30).
4.2 - Esclareceu que o dom de línguas é, em realidade, inferior aos outros dons. Isto se infere pela colocação das línguas em último lugar em todas as listas em que elas estão incluídas (I Co 12:8-10,28). E, em I Coríntios 14, ele gasta muito tempo para estabelecer a inferioridade do dom de línguas em relação ao dom de profecia.
4.3 - Ele diz que a preocupação com línguas é prova de imaturidade espiritual (I Co 14:20) porque esse é um dom (o único, por sinal) que beneficia apenas aquele que o possui (I Co 14:4,17).
4.4 - Ele declara que o dom de línguas deve ser exercido primariamente nos atos particulares de devoção (I Co 14:2,18,19,28).
4.5 - Proíbe toda manifestação pública do dom, a menos que alguém presente tenha o dom de interpretação e interprete de modo que a igreja venha a ser edificada (I Co 14:5-13,28).
4.6 - Limita a três, e uma de cada vez, o número de pessoas que falam em línguas, devendo suas palavras ser interpretadas em qualquer culto público (I Co 14:27).

CONCLUSÃO

Nos dias que atravessamos de final e início de séculos, um aspecto a suscitar indagações é a efervescência religiosa que está acontecendo. Parece que mais do que nunca está havendo uma volta ao sentimento de religiosidade do homem, quando todos estão a procurar respostas para seus sentimentos espirituais, havendo por isso mesmo afirmações e excessos por parte de certos grupos religiosos que não se coadunam com os sadios ensinos da Palavra de Deus. Se por um lado há a busca por "poder", ou "fogo", também há um esfriamento contínuo do sentido de unidade orgânica que deve haver na Igreja, como o Corpo de Cristo.

Muitos que buscam os "fogos de artifício" para anunciarem a todos a sua aguçada "santidade" e "espiritualidade", baseadas em meras experiências místicas, esquecem-se de produzir o fruto do Espírito, verdadeira marca do cristão (Gl 5:22,23). "Pois em um só Espírito fomos todos nós batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos quer livres; e a todos nós foi dado beber de um só Espírito." (I Co 12:13).

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